O Retorno

Eu sei, já fazem uns 4 meses que eu voltei, já aconteceram várias coisas e estou super atrasada com esse post. Fazes de transições costumam ser agitadas e complicadas. São processos de desapegos intensos e em uma cidade com São Paulo ter tempo para escrever sem ser em pequenos garranchos pode ser bem desafiador.

Mas enfim, ufa, vamos lá!

Sai da Bahia com coração apertado porém muito decidido a sair da zona de conforto.
Parece loucura até hoje quando falo em voz alto que troquei a vida na praia, onde tinha tempo pra surfar, meditar, escrever, pintar, e fazer tudo aquilo que eu valorizava desde cuidar da espiritualidade, ser 100% independente e ajudar a comunidade com aquilo que estava ao meu alcance.

O quê? Foi pra São Paulo trabalhar mais horas do que te pagam? Pegar trânsito? Viver de coisas materiais? Como trocar uma vida tranquila com tudo que você gosta por uma com tudo que você detesta?

Soa bem radical né? Por que eu iria voltar pra casa dos meus pais, assumir responsabilidades que não necessariamente competem a mim só pra sair da zona de conforto.

E a resposta é sim pra tudo. Hipocrisia zero galera. Óbvio que existem mais camadas desse cenário mas ainda assim existia uma necessidade emocional, pratica e bem material na tomada de decisão.
Não vou mentir, porque eu sinto falta da bahia todos os dias. Lá eu tive a oportunidade de ser o melhor de mim como pessoa e estar envolvida em tudo que eu mais aprecio. Voltar pra São Paulo e não só encarar os fantasmas do passado mas também encarar a versão de mim que gosta da correria, de ter dinheiro pra comer fora e coisas do tipo não é algo que apenas frases motivacionais dão conta.

O retorno foi (como sempre é) pior do que eu imaginava. Ansiosa de nascença eu queria me resolver em um, dois meses. Achava que ia ter o apoio de todo mundo durante esse período mas uma coisa é você ser visitante, outra coisa é ser presente, e outra totalmente diferente é só existir. E o lado ruim de só existir é que em momentos de transformação a gente precisa de mais do que só pessoas numa lista de amigos, precisamos de todas as ferramentas possíveis.

Foi ai que me vi rodeada de pessoas e mesmo assim me sentindo tão sozinha como na Bahia ou antes dela. Mas o universo é perfeito e tem seu tempo pra fazer as coisas andarem, a gente começa com vários mini surtos querendo fazer qualquer coisa que te indiquem desde mapa astral, numerologia e tarô, até aquela nova terapia adaptada pelos monges do Butão que virou uma técnica de coach  que promete mudar a sua vida completamente. Desespero é uma desgraça, e eu rio dele.

Dou risada de nervoso, pra não socar a cara na parede. Sério.
Nem tudo são sorrisos e flores, mas tenho que admitir que desconforto gera um baita de um movimento, isso gera. E no fim, movimento foi o que eu pedi pro universo desde o inicio.

Pedi um movimento na profissão, no amor, nos relacionamentos com as amizades.
Ai o universo me deu uma oportunidade de emprego promissora que consumiria 85% do meu tempo, um amor que durou nada mais e nada menos que algumas semanas, e amizades que resolveram acolher a minha dor e a frustração de formas muito singulares e distantes.

É caros, acharam que esse texto teria um fim positivo e motivador? erram.
4 meses se passaram e eu finalmente começo a sentir a rotina, o ritmo, começo a viver as coisas de uma forma mais natural e a não ter medo de gente.

4 meses se passaram na terapia pra eu olhar pra coisas que demorariam mais alguns anos pra olhar se eu tivesse ficado sozinha tentando lá na Bahia.

4 meses se passaram pra eu aceitar que nem sempre os relacionamentos dão certo, duram ou que a gente vai ser escolhido por finalmente ter tido coragem de se arriscar e se abrir para o amor de novo.

4 parece um número tão estável pra um momento de tanto crescimento. Pareceu um vida até chegar o momento em que me sinto bem com o momento da minha vida. Que começo a aceitar que não vou ser a Gabriela que faz voluntário com criança, tem um horta em casa, garrafas de vidros, ecobags e canudos sustentáveis, meditações de 40 minutos por dia, uma dieta semi saudável e leituras todos os dias. Demorou pra entender que não precisava me desapegar de quem eu fui/sou e que não é porque sou diferente na cidade grande que sou melhor ou pior que na Bahia. Ou que sou bem sucedida ou fracassada em uma fase ou outra. Tudo é aprendizado. Desconforto é o primeiro movimento para o perdão e reequilíbrio do que estava parado. Ser paciente nem sempre vai bastar e tudo bem xingar, surtar e desabafar de vez em quando.

Falei que não teria um fim positivo e motivador, mas acho que minimamente poetizei um pouco né?
A verdade é que falando assim parece que estamos chegando no fim, mas este é só o começo.

Fiquem atentos (ou não porque tenho zero constância aqui) mas lembrem-se se sempre dar o seu melhor e nunca desistir de que momentos melhores virão.



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